Análise – The Spectrum

Análise – The Spectrum

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Desta vez, tenho estado a testar um PC, que para muitos, foi onde começaram a ter interesse em programação e em videojogos, falo-te da versão moderna do ZX Spectrum, chamado de The Spectrum. Vê o que achei.

A Retro Games, especialista em jogos vintage, já satisfez os fãs do Commodore, com o lançamento do The C64 Mini e The C64, reproduções modernas do computador doméstico (o último era de tamanho normal com um teclado funcional e, portanto, infinitamente melhor).

Agora é a vez de os fãs do Spectrum receberem o mesmo tratamento, e a ênfase é colocada no “tratamento”. Simplesmente chamado The Spectrum, esta recriação modernizada de um computador icónico é uma forma quase perfeita de reviver memórias de infância do Speccy, se as tiveres, ou de expandir os teus conhecimentos retro, se não as tiveres.

O que vem na caixa?

  • The Spectrum
  • Um cabo HDMI
  • Manual
  • Cabo USB-C to USB-A (Sem adaptador AC)

Hardware

Assim que o tiramos da caixa, o The Spectrum traz-nos uma grande nostalgia ao lembrar quando éramos pequenos e passávamos horas a fio a jogar Manic Miner, Horace Goes Skiing ou mesmo o Chuckie Egg, entre outros. Para além da substituição da palavra Sinclair pela palavra Retro, o dispositivo é uma recriação fiel e autêntica do ZX Spectrum 48K, a versão mais imediatamente reconhecível do Spectrum.

Pelo menos, é essa a sensação que temos na nossa cabeça. Na realidade, não tem exatamente a mesma forma (o original era um pouco mais compacto), mas está tão próximo que qualquer pessoa que tenha crescido com um deles jurará que é a mesma coisa sem os ter lado a lado para comparação.

Uma das razões mais importantes para isto é o elemento que toda a gente recorda do Spectrum, e a primeira coisa que invariavelmente referem quando o mencionam – as teclas de borracha. Em vez das teclas de plástico duro que se encontravam nos teclados já nos primeiros tempos, o ZX Spectrum 48K original tinha um pequeno teclado chiclet com teclas de borracha – esta nova recriação imita-as na perfeição.

Naturalmente, se fosse uma cópia completa, não seria bom, dado que o antigo Spectrum apenas tinha uma saída RF concebida para ser ligada a uma antena de televisão. Como tal, o novo Spectrum tem todos os acessórios que se esperam de um dispositivo moderno, incluindo uma saída HDMI e um cabo de alimentação USB.

É de notar que este cabo não vem com um adaptador AC, pelo que terás de encontrar a tua própria ficha de 5V. Tenho visto na redes sociais pessoas a relatar que certos adaptadores não estão a funcionar, mas, para que conste, liguei o meu com o carregador do meu Xiaomi e ligou sem qualquer problema.

A autenticidade do The Spectrum leva à sua principal desvantagem – não vem com um comando. Para ser inteiramente justo, o ZX Spectrum 48K original também não tinhas, mas eram outros tempos.

Por um lado, isto não afeta nenhum dos jogos incluídos (falaremos deles mais tarde), porque todos eles podem ser jogados com o teclado, dando um pouco de trabalho às gloriosas teclas de borracha. Na prática, porém, vai ser difícil fazer com que os jogadores modernos se interessem por este PC sem lhe ligarem um comando.

O cabo HDMI fornecido também é irritantemente curto, por isso, se tiveres um televisor grande, vais ter de te sentar dolorosamente perto dele, com o teclado na mão, até comprares um cabo HDMI mais comprido ou, na verdade, optares pela via do comando (eu safei-me com o cabo HDMI da Box da TV).

O The Spectrum suporta o que a Retro Games afirma ser uma grande variedade de comandos USB, por isso há uma boa hipótese de já teres um em casa que funcione com ele. Não existe uma lista definitiva do que é ou não compatível, eu por acaso, tive azar, o que tenho não dá.

Se quiseres evitar qualquer dúvida, recomendo o The Gamepad ou o The Joystick, dois comandos de nome genérico anteriormente lançados pela Retro Games para o A500 Mini e o C64, respetivamente. Obviamente, ambos funcionam na perfeição com o The Spectrum e até existe uma nova versão preta do Gamepad para combinar com o esquema de cores do Spectrum, tornando-o claramente a escolha recomendada pela Retro Games.

Interface

Acompanhado por uma batida chiptune alegre, o menu principal é um estilo de carrossel usado na NES Mini, SNES Mini, em todos os sistemas anteriores da Retro Games e assim por diante.

O The Spectrum tem uma saída de 720p a 50Hz ou 60Hz, consoante a escolha do jogador. Dada a natureza europeia do computador original e dos seus jogos, recomenda-se vivamente que optes por 50Hz para que tudo seja reproduzido como originalmente previsto, e só optes pelos 60Hz se o teu ecrã não suportar os 50Hz.

Cada jogo tem quatro slots livres para os saves, o que te permitem suspender a ação a meio do jogo para voltares a ele mais tarde, embora o processo para o fazer seja um pouco complicado. Em vez de carregares simplesmente num botão de menu a meio do jogo e escolheres uma opção de guardar, tens de carregar no botão Home (na parte de trás do sistema) para voltar ao front-end, depois vais para o ecrã de Jogos Guardados do jogo que se estava a jogar e guardas o jogo ainda suspenso nesse ecrã.

Para ser sincero, é um pouco estranho se não estiver a utilizar um comando – não há indicações no ecrã sobre como mover o cursor, o que leva a um período inicial de tentativa e erro e, uma vez que cada jogo tem comandos de teclado completamente diferentes (sem culpa da Retro, claro), não tem a mesma sensação de “pegar e jogar” de outras recriações retro se não tiver um comando.

As opções de visualização são simples, mas funcionam bem. Podes ativar um filtro CRT, se desejares, e há uma seleção de margens, se não quiseres um ecrã preto à volta dos teus jogos 4:3.

Por falar em margens, existe também uma opção útil para recortar a imagem – muitos jogos Spectrum preenchiam parte do ecrã com uma grande moldura de uma só cor, e podes recortar o ecrã para a remover se achares que fica feio.

Uma outra coisa que teria adorado – embora reconheça que sou masoquista neste aspeto – é a opção de arrancar cada jogo com uma rotina de carregamento completa. Por uma questão de conveniência, cada um dos jogos incluídos salta diretamente para o ecrã de título, mas os fãs do Spectrum lembrar-se-ão com uma estranha satisfação da sensação de esperar séculos para que um jogo carregasse enquanto o leitor de cassetes gritava.

Não é o tipo de coisa que gostaria de fazer a toda a hora, mas, por uma questão de nostalgia, teria adorado a opção de o fazer de vez em quando, para sentir a verdadeira sensação dos anos 80.

Os jogos

O The Spectrum vem com 48 jogos incluídos, cobrindo toda a vida do computador e mais além.

O Spectrum original tem gozado de uma boa adesão por parte dos entusiastas que adoram continuar a fazer jogos para ele, motivados pelo objetivo de tirar o máximo partido de um hardware extremamente limitado.

Num toque agradável, a Retro Games incluiu alguns destes jogos homebrew mais recentes como parte da biblioteca do The Spectrum, o que significa que não há aqui apenas um conjunto de clássicos para os nostálgicos, mas também algumas novidades interessantes que mostram aquilo de que esta pequena máquina era capaz.

Como se pode ver na lista abaixo, alguns destes jogos são versões de 128K. Estes não eram originalmente jogáveis no ZX Spectrum 48K, mas embora o fator de forma seja baseado no 48K, este – sendo um emulador numa caixa, afinal de contas – pode alegremente jogar jogos de 16K, 48K, Spectrum+ e 128K.

A lista completa de jogos incluídos é a seguinte:

  • Alien Girl: Skirmish Edition (128K)
  • Ant Attack
  • Army Moves
  • Auf Wiedersehen Monty (128K)
  • Avalon
  • Bobby Bearing
  • Cosmic Payback (128K)
  • Devwill Two (128K)
  • El Stompo
  • Exolon (128K)
  • Fairlight (128K)
  • Firelord
  • Football Manager 2
  • Freddy Hardest
  • The Great Escape
  • Head Over Heels (128K)
  • Highway Encounter
  • The Hobbit
  • Horace Goes Skiing
  • Jack the Nipper
  • Knot in 3D
  • The Lords of Midnight
  • Manic Miner
  • Match Day II
  • Movie
  • Nodes of Yesod
  • Penetrator
  • Phantis (Game Over II)
  • Pheenix
  • Pyracurse
  • Quazatron
  • Robin of the Wood
  • Saboteur! Remastered (128K)
  • Shovel Adventure (128K)
  • Skool Daze
  • Snake Escape (128K)
  • Spellbound (128K)
  • Starquake
  • Starstrike II
  • Stonkers
  • Target: Renegade (128K)
  • TCQ (128K)
  • Technician Ted: The Megamix (128K)
  • Tenebra
  • Trashman
  • The Way of the Exploding Fist
  • Wheelie
  • Where Time Stood Still (128K)

Os fãs de longa data do Spectrum encontrarão imediatamente algumas jóias – Manic Miner, Match Day II, Skool Daze, Horace Goes Skiing, Head Over Heels e Auf Weidersehen Monty são clássicos absolutos.

Naturalmente, porém, quando se trata de um sistema que tinha mais de 10 000 jogos no total (incluindo jogos de revistas, fitas de capa, compilações, homebrew e afins), 48 jogos mal arranham a superfície (atualmente, já se fala nas redes sociais que existem mais 9 jogos ocultos e como os podes desbloquear).

Como tal, existem inúmeros outros jogos que os fãs gostariam de ver incluídos, mas que não podem ser feitos, muito provavelmente por razões de licenciamento. Não há nada de Ultimate Play the Game, por exemplo, mas isso deve-se provavelmente ao facto de a Rare ser agora propriedade da Microsoft. O mesmo se passa com todas as licenças de filmes – receio que não haja Short Circuit para ti.

É aí que entra o suporte USB do The Spectrum. Ao utilizares uma pen USB formatada em FAT32, podes copiar os teus próprios ficheiros ROM – adquiridos legalmente, claro – e executá-los. O The Spectrum suporta ficheiros .TAP (que arrancam no ecrã de título como os jogos pré-instalados) e ficheiros .TZX (que fazem a rotina de carregamento completa, que pode demorar até 10 minutos).

É essa a ideia em teoria, mas na prática tenho enfrentado alguma dificuldade em carregar muitos ficheiros TZX. Espero que isto seja corrigido no futuro, mas por agora parece que os ficheiros .TAP são a solução. Já joguei Chuckie Egg, Paradise Café e Formula One, sem qualquer problema, mas outros nem dão sinal.

De notar também que, ao jogares os teus próprios jogos, o The Spectrum tem um menu que te permite definir qualquer comando que ligues à interface Kempston, Sinclair ou Cursor (o Spectrum tinha várias interfaces de controlador), o que significa que podes ter a certeza de que qualquer jogo suportado por joystick funciona com o teu comando.

Também podes reatribuir e duplicar o mapeamento de botões para o teu comando, o que significa que se um jogo de plataformas originalmente te obrigava a saltar movendo o manípulo para cima, podes agora duplicar o comando para cima para um botão extra do comando, para algo que pareça um pouco mais moderno.

Quero deixar aqui uma indicação, de como deves colocar os jogos na pen. Divide tudo por pastas de A a Z, onde cada pasta deve ter no máximo 250 ficheiros, se for mais o sistema não vai detetar. (Ex. Pasta A=250, pasta A1=250, e por ai fora).

Resumindo

O The Spectrum é o melhor dispositivo no mercado para quem tem boas recordações do clássico computador doméstico de Clive Sinclair e quer apenas uma forma fácil de reviver esses dias. A sua biblioteca de jogos também o torna um excelente ponto de partida para quem não teve um ZX Spectrum mas quer aprender mais sobre esta parte muito britânica da história dos jogos. No entanto, é possível que seja necessário um comando para tirar o máximo partido.

9.0

Nota Final

Overall rating

Pros
  • Muito bem construído, com o toque perfeito das teclas de borracha
  • Uma sólida seleção de jogos antigos e novos
  • O suporte de ROM USB permite reproduzir mais de 10.000 jogos
  • O remapeamento do comando faz com que o “mover para cima para saltar” seja uma coisa do passado
Cons
  • Sem comando incluído
  • O suporte de ficheiros TZX não é muito fiável
  • Sem adaptador AC
Sobre o autor

Fernando Costa

O Fernando é o diretor do InforGames. O seu primeiro computador foi o ZX Spectrum, e foi aqui que começou a interessar-se pelo mundo dos videojogos. Apesar de já ter jogado em várias plataformas, o PC continua a ser a sua plataforma de eleição. No que diz respeito a jogos, gosta de estratégia, corridas e luta.

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